Especialização em Arquitetura Naval na ENSA Nantes

Especialização em Arquitetura Naval na ENSA Nantes, o caminho para Tamara Klink conquistar seu objetivo

Como qualquer jovem, Tamara Klink não tem medo de sonhar. No entanto, seu maior desejo em nada se assemelha aos anseios comuns de sua geração: ela planeja atravessar, sozinha, o Oceano Atlântico. Filha dos velejadores Amyr e Marina Klink, Tamara não esconde a paixão – e determinação – herdada dos pais, que inspiraram gerações de brasileiros com suas aventuras pelos mares.

As viagens em família foram cruciais para a jovem, que já participou de 9 expedições à Antártica. Mas é equívoco pensar que sua trajetória foi facilitada por este motivo. Em entrevista ao Conversa com Bial, o pai conta como ela pediu, aos 15 anos, sua embarcação emprestada para que pudesse realizar a travessia. O pedido foi negado e o pai respondeu que, se ela quisesse, deveria construir o próprio barco.

Como preconizado pelo pai, aos 23 anos, Tamara escolheu a França como residência, um local para se preparar para o seu sonho. Ela está se especializando em Arquitetura Naval em uma das maiores escolas de arquitetura do país, a Ecole Nationale Supérieure d’Architecture de Nantes.

Ao Campus France, Tamara conta que a escolha pela França consequência natural da sua paixão pela navegação e interesse pela navegação em solitário: 

“Aos 8 anos tive a chance de viver com minha família minha primeira experiência na Antártica. Nos cemitérios de icebergs, nos atracadouros isolados, nos lugares mais improváveis e engraçados, volta e meia encontramos pequenos veleiros. Uma ou outra janela remendada, roupas penduradas pelo guarda corpo, como um poleiro de aves congeladas, e crianças e bichos de pelúcia saindo pelas janelas. Eram barcos vividos e com orçamento enxuto, recursos limitados e uma tripulação incomum. Tinham cruzado águas quentes e frias e agora passeavam na Antártica e punham roupas para secar no convés como se passassem as férias em família em uma praia tropical. Não precisava tentar adivinhar de onde vinham, já chamávamos no rádio com “Bonjour” e conversávamos em francês”, relembra.
Outra característica tipicamente francesa, a paixão pelo “bricolage”, também chamou sua atenção: “Fiquei fascinada pela maneira que tinham de ver e passear pelo mundo. A falta de recursos não era desculpa para adiar ou desistir do sonho de ir longe. De uma maneira ou de outra, se serviam do poder “bricoleur” e chegavam lá”.

Já na sua primeira expedição, estava certa de que um dia falaria francês e determinada a descobrir o que levava os franceses à navegação. Passou a adolescência lendo relatos de expedições polares e travessias oceânicas em solitário, grande parte deles escritos por franceses. Passou a estudar o idioma e, na primeira oportunidade, foi morar na França.

Na época, estava inscrita no curso de arquitetura na USP e a ideia era realizar um intercâmbio de mobilidade acadêmica. Acabou ficando para a especialização e hoje divide o seu tempo entre produção de conteúdo (Tamara tem um canal no Youtube sobre navegação e chegou a apresentar uma série de TV para a BandNews), a construção do seu projeto, os estudos e as navegações pela Bretanha.

Vida na França

Assim como atravessar o oceano sozinha, mudar de país de uma hora para outra é um desafio considerável. Tamara conta que sente muita falta do Brasil, mas sabe que a recompensa a aguarda: “Estou segura de que estou no lugar certo para construir e realizar meu projeto na navegação. Vai ser minha primeira experiencia em solitário e acho que encontrei o contexto ideal para me preparar para isso”.

Além das saudades, enfrenta outros desafios, como a procura por patrocínio e apoio técnico para a sua viagem, prevista para setembro de 2021. Para a sua jornada, pretende utilizar um pequeno barco voador “Farei isso dentro de uma competição de barcos protótipo que se chama Mini Transat, onde todos os barcos têm 6.50 metros. Essa competição já trouxe muitas inovações para arquitetura naval. Vou construir esse barco, testá-lo e fazer regatas de qualificação para enfim fazer a travessia. Quero aprender o máximo possível pois vejo esse projeto como uma formação para poder navegar mais longe”, conta.

Na Bretanha, além de ter contato com pessoas que a orientaram em todas as etapas, ela encontrou o berço ideal para seu projeto: “Com vários estaleiros, times de corrida, preparadores esportivos, velejadores profissionais e iniciantes, diferentes regatas, a Bretanha respira e inspira vela”.

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