Cinema em Rennes 2
Vinícius Gouveia estudou cinema na Université de Rennes 2
Aos 14 anos eu já queria trabalhar com audiovisual, por isso comecei a procurar oportunidades desde cedo.
A primeira delas foi uma bolsa que recebi para estudar cinema em Nova York aos 15 anos. Com ainda mais certeza da minha escolha, ingressei na graduação de Cinema e Audiovisual da UFPE. O meu tempo lá foi fundamental para me aprofundar na sétima arte, pois foi graças aos meus professores que comecei a articular com maior clareza ideias sobre estética, história e política com o cinema e audiovisual.
Na metade do curso eu soube do Ciência sem Fronteiras e me inscrevi na seleção... Felizmente, fui selecionado! Em pouco tempo, eu parti para estudar francês em Vichy por 2 meses, seguidos por 2 semestres no curso Arts du spectacle - Parcours Etudes cinématographiques na Université de Rennes 2 e, finalmente, um estágio em Paris por 3 meses.
Sem dúvida, os maiores ganhos foram linguísticos e culturais.
Não consigo dissociá-los, pois eu melhorava meu domínio sobre a língua ao passo que culturalmente compreendia melhor o peso e os significados de cada palavra e trejeito dos franceses. Além disso, em geral, o olhar francês em sala de aula sobre o cinema me causou interesse e estranhamento pois, ao contrário do meu curso brasileiro, agora eu via o lado do "cânone europeu" falando sobre si próprio e enxergando as demais cinematografias mundiais.
As sensações foram várias, desde uma conexão mais forte com os filmes franceses até um incômodo pelas maneiras que são encaradas outras formas de realização cinematográfica. A rede de contatos que pude estabelecer também foi importante.
Hoje, eu sou diretor artístico do MOV - Festival Internacional de Cinema Universitário de Pernambuco, e o embrião dele foi o networking estabelecido com colegas de várias nacionalidades da minha faculdade francesa. Junto a esta atividade, dou aula de cinema para adolescentes (e expor como franceses, brasileiros e outras nacionalidades enxergam o cinema é sempre um tópico interessante a ser discutido!).
Por último, estou em pré-produção de uma série de TV onde assino como roteirista e diretor, além de ter recém-aprovado um edital de financiamento para roteirizar o meu primeiro desenho animado!
Eu vejo em todos esses projetos a bagagem da minha passagem pela França, marcada por uma prática diária de empatia (do franceses em relação a mim e vice-versa).
Por tudo isso, eu encaro o saldo da minha experiência na França como algo positivo. Dificuldades existiram, os choques culturais são inevitáveis, porém necessários para a formação de uma visão mais crítica sobre o Brasil e a França.
Assim, minha dica para quem quer estudar cinema na França é familiarizar-se não apenas com o cinema francês, mas também o brasileiro e latino-americano. Na verdade, o ideal é conhecer de tudo um pouco, de Hollywood à Bollywood!
Os franceses são apaixonados por cinema, eles levam o assunto muito a sério, então adquirir repertório me parece importante. Além disso, divertir-se. Cinema é uma delícia e, para mim, não faria sentido passar tanto tempo se eu não estivesse aproveitando a jornada nos pontos altos e baixos :)